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Atualizado: 07/11/2025 às 11:35
Equipe de Research Santander
INVESTIMENTOS
Ibovespa e mercados: máximas históricas e a agenda de riscos
Na reta final de 2025, o mês de outubro consagrou uma nova máxima histórica para o Ibovespa, que encerrou no patamar de 149.540 pontos, acumulando 24% de alta no ano.
Movimento análogo pôde ser observado nos EUA, especialmente com a performance da Nasdaq (alta de 4,7% no mês e 23% no ano); na Argentina, com o índice MERVAL registrando alta de 22% em um único pregão, diante do resultado das eleições legislativas de meio de mandato; e no Japão, com o índice Nikkei renovando máxima histórica (e acumulando alta de 31% no ano), impulsionado pela desvalorização do iene e pela entrada de capital estrangeiro.
Apesar da animação, os volumes seguiram tímidos: por aqui, a B3 registrou volume médio diário de negociações (ADTV) de R$ 21,9 bilhões em outubro e R$ 23,6 bilhões em 2025, número que se compara aos R$ 24 bilhões de 2024, R$ 25 bilhões em 2023 e R$ 30 bilhões em 2022.
O investidor estrangeiro registrou saída líquida de R$1,7 bilhão em outubro na B3 (até o dia 30), num aparente movimento de realização, mas ainda insuficiente para apagar o saldo positivo de R$24,8 bilhões no ano.
Por outro lado, os fundos locais (institucionais) registraram vendas líquidas de R$41,1 bilhões no ano. Um dos motivos que pode explicar essa tendência é a atratividade da Renda Fixa no Brasil.
Comparando apenas a posição das pessoas físicas na B3 (segundo o boletim mais recente), nota-se um crescimento de 2% a.a do número de investidores em 2025 (até setembro), enquanto a Renda Fixa apresentou um crescimento de 10% a.a no mesmo período.
No Brasil, a temporada de balanços corporativos do 3º trimestre de 2025 teve início em 22 de outubro, enquanto as divulgações de resultado se encerrarão em 14 de novembro.
Com uma parcela ainda baixa da nossa cobertura tendo reportado seus balanços, julgamos ser ainda cedo para uma análise geral.
O que temos é uma visão prospectiva: para o universo de cobertura do Santander Research, esperamos aumento médio de ~7% a.a na receita líquida e de ~3% a.a no EBITDA, enquanto o lucro líquido deve registrar queda de ~16% a.a – queda essa impulsionada pelos setores de Agronegócio, Energia & Saneamento e Petróleo, Gás & Petroquímicos.
Em relação à inflação, o IPCA dos últimos 12 meses situou-se em 5,2% em setembro, acima do limite superior da meta de inflação (4,5%) e superior à taxa registrada em setembro de 2024 (4,4%).
Embora a inflação tenha permanecido acima da meta, a valorização do real (+13% em 2025) tem contribuído para aliviar as pressões inflacionárias, particularmente sobre os preços dos alimentos, o que contribuiu para uma redução das expectativas de inflação para o fim de 2025.
De acordo com o último Relatório Focus do Banco Central (publicado em 3 de novembro), a previsão de inflação para o fim de 2025 é de 4,55%, abaixo dos 5,00% projetados no início do ano.
No âmbito político, os investidores seguem monitorando as medidas fiscais que deverão ser anunciadas para compensar a perda de receita decorrente do fim da Medida Provisória (MP) 1.303/2025, retirada da pauta no dia 8 de outubro pela Câmara dos Deputados.
O governo estimava arrecadar cerca de R$ 10 bilhões em 2025 e R$ 20 bilhões em 2026 com o texto original e a perspectiva é de que agora, conforme mencionado pelo próprio ministro Fernando Haddad (no dia 21), sejam apresentados dois novos projetos ao Congresso – um de revisão de despesas e outro para aumento da arrecadação.
Já o Orçamento de 2026 (incluindo a meta fiscal, calendário de emendas e potencial dispositivo permitindo o governo mirar o piso da meta de resultado primário) teve a sua votação no Congresso postergada para este mês de novembro.
A falta de consenso entre os parlamentares aumentou após a retirada da MP 1.303, uma vez que ainda não foi apresentada uma alternativa aos R$20 bilhões que se estimava arrecadar em 2026.
Nos EUA, o Federal Reserve anunciou, no dia 29, um corte de 25 bps dos Fed Funds, passando para a faixa de 3,75-4,00%, conforme esperado pelo mercado.
Na coletiva de imprensa, o presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, afirmou que as perspectivas para a inflação e para o mercado de trabalho nos Estados Unidos não tiveram mudanças materiais desde setembro, apesar da ausência de dados por conta do shutdown no país.
Powell também evitou dar um direcionamento sobre a reunião de dezembro ao alegar que uma nova redução não está garantida e que há um "sentimento" no FOMC em prol de uma pausa nos cortes.
Apesar da tentativa de Powell de “despistar” os investidores, o consenso do mercado segue precificando juros terminais em 3,50-3,75% ao fim do ano (probabilidade de 63% de um corte adicional em dezembro, segundo a ferramenta de acompanhamento do CME Group).
No dia 1º de outubro, o governo federal americano entrou em um período de paralisação administrativa (shutdown) parcial, em meio à falta de consenso para aprovação de um orçamento provisório, mais especificamente uma série de 12 projetos – as appropriations bills, responsáveis por financiar os gastos discricionários do governo para o ano fiscal de 2026.
Segundo estimativas do Bipartisan Policy Center (BPC), 670 mil funcionários federais estão em licença não remunerada (furloughed), enquanto 730 mil continuam realizando suas atividades, mas sem pagamento imediato.
Entre tantos outros impactos, vale mencionar o cancelamento e a postergação da divulgação de indicadores macroeconômicos nos EUA.
Na pauta comercial, merece destaque a reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, com o presidente da China, Xi Jinping, em 30 de outubro.
As medidas anunciadas vieram bastante alinhadas com o esperado – entre elas, a redução das tarifas de importação sobre produtos chineses de 57% para 47%, mediante compromisso de Pequim em restringir o envio de substâncias químicas nos EUA usadas na produção de fentanil.
Segundo Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, os documentos dos acordos firmados deverão ser assinados ao longo da primeira semana de novembro. Antes, no dia 27, Trump se reuniu com Lula, na Malásia – quando ambos participavam da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
Na América Latina, vale destacar as eleições legislativas parciais na Argentina, realizadas no último domingo do mês (26) e cujos resultados reforçaram um avanço da coligação do presidente Milei, La Libertad Avanza (LLA).
Na Câmara dos Deputados, houve renovação de metade dos postos (127 de 257 cadeiras), sendo que a LLA ganhou aproximadamente 64 novas vagas, elevando seu total para cerca de 90-100 deputados.
No Senado, houve renovação de um terço dos postos (24 de 72 cadeiras), com aumento da participação da LLA também.
A interpretação do mercado é de que o resultado fortalece a base de apoio do governo de Javier Milei no Congresso, um ponto particularmente essencial considerando a agenda de reformas que ele busca implementar.
Em novembro, a expectativa é que haja algum consenso entre democratas e republicanos para colocar fim ao shutdown do governo americano.
Na pauta de política monetária, os investidores deverão seguir atentos aos pronunciamentos dos dirigentes do Federal Reserve, uma vez que a próxima reunião do FOMC só ocorre em dezembro (10).
No Brasil, o COPOM se reúne nos dias 4 e 5 de novembro, mas o cenário base é de que o início do afrouxamento monetário só ocorra no primeiro trimestre de 2026 – assim, a taxa Selic deve encerrar 2025 no patamar atual de 15,00%.
Por fim, um tema que tem ganhado tração nas últimas semanas, e que deve seguir no radar, é o risco de uma potencial bolha em setores como o de tecnologia e inteligência artificial – e com a temporada de balanços corporativos do 3T25 também em curso nos EUA, os resultados das empresas tech deverão ser acompanhados de perto.
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